terça-feira, 8 de dezembro de 2009

PROPOSIÇÕES – ENSAIOS DE HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA de Jacques Revel

A EdUERJ disponibiliza aos leitores brasileiros uma obra que, embora se dedique predominantemente a reflexões sobre história e historiografia, como o título sugere, desperta também grande interesse multidisciplinar. Porque a palavra-chave que atravessa o livro, implícita ou explicitamente, dando liga aos ensaios que o compõem, é "cultura". As áreas do saber para as quais os estudos culturais e as práticas culturais têm relevância podem tomar os estudos reunidos em Proposições como modelares para o exercício de um pensamento crítico lúcido, bem fundamentado, com densidade teórica,favorecido pelo gênero ensaístico, que se abre para perspectivas múltiplas, sem se fixar em fechar um foco conclusivo; descentrando mais do que centrando; trazendo para a atualidade novos diálogos sobre o passado; e retrabalhando tensões fundamentais existentes no campo da história e das formas de narrar o conhecimento sobre o homem e a sociedade.
Dos sete ensaios de Proposições, seis integram importantes publicações científicas européias. Todos estão sendo traduzidos pela primeira vez em língua portuguesa. O intitulado "Cultura, culturas: uma perspectiva historiográfica" é inédito, e foi produzido especialmente para este volume.
Destacamos o "Cultura, culturas" por ser um texto que vai levantar justamente um debate fundamental para aqueles que ficaram órfãos dos paradigmas explicativos totalizantes e integradores e se depararam com o que aparentemente seria uma anarquia conceitual. Jacques Revel vai apontar a riqueza e o desafio de se pensar nesse contexto. Na verdade, para o autor, essa contingência de fortes "turbulências epistemológicas" é de fato muito complexa, "mas também um momento de reflexão crítica das disciplinas sobre si mesmas, sobre seus pressupostos e sobre seus modos de fazer, que também afetou a história". O historiador analisa que esse momento de visadas apresentou aspectos muito positivos simultaneamente a outros negativos.De um lado, tem-se a renúncia à arrogância discursiva, mas que levou a um relativismo cético; de outro, conquista-se uma liberdade e uma renovação da capacidade intelectual; a própria redefinição dos conceitos "social", "histórico" e "cultural" seria uma das consequências fecundas. A maneira de se lidar com os cânones, com o passado, com a forma restritiva de transmissão de conhecimentos foram reconfiguradas pelos acadêmicos. Enfim, há muitos pontos favoráveis nesse processo, e é isso que Revel vai procurar indicar, embora alertando também para os conflitos e as incertezas que essa gama de diversidade epistemológica, metodológica e conceitual traz.
Os outros seis ensaios trazem debates dos quais Jacques Revel não quer extrair os pontos de chegada, mas, sim, algumas origens – os pontos de partida – dos mesmos, suas condições efetivas, que em geral caem no esquecimento, soprepujadas pelos resultados. São eles: as confrontações das ciências sociais e humanas, os paradigmas dos Annales; os primeiros Annales (o papel de Maurice Halbwachs); o itinerário da desconfiança do "acontecimento"; os intelectuais e a cultura "popular" na França iluminista; a proliferação de noções sobre as práticas culturais, por conseguinte, o aumento das incertezas das concepções dos historiadores.
Finalmente, a erudição da escrita de Revel em nenhum momento nos afasta do cerne de suas análises, dos eixos de seus debates, que em última instância delineiam a percepção do feixe de incertezas que o estudioso contemporâneo tem de enfrentar. O historiador oferece algumas proposições de como lidar com esse emaranhado de teorias.
Carmen da Matta
Doutora em Literatura Comparada







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