As sociedades do Novo Mundo e os dominadores europeus fundamentaram a empresa colonial em ideologias raciais autojustificadoras tão eficientes que até hoje reverberam na sociedade, na política, nas atitudes, no imaginário.
Este livro busca recompor a imagem (e a autoimagem) do negro no Brasil e nos Estados Unidos oitocentistas a partir de significativas mostras de discursos religiosos, políticos e literários, sendo os últimos especialmente férteis, valendo-se de uma pesquisa interdisciplinar que recorre às ciências sociais e a outros saberes sem se submeter a nenhum deles. O corpus reunido de discursos permite-nos vislumbrar as complexas relações inter-raciais do universo oitocentista, “cria vastos painéis sociais, em suas nuances e modulações”.
Sobre isso Heloisa Toller Gomes se debruça: seu trabalho é vasculhar a literatura oitocentista em busca de pistas que ajudem a caracterizar o discurso que se formou sobre o negro. Apoiada pelas teorias de Michel Foucault (análise das formações discursivas) e Jacques Derrida (literatura na intertextualidade), a autora disseca conceitos ideológicos que perpassaram séculos e vai além: vasculha, disseca, mas também indaga: como se distanciar da tragédia da escravidão para analisá-la? Como se caracteriza o discurso que se formou sobre o negro? E como se formou a alteridade do negro? O ponto de partida é a própria literatura, que, entre questões antigas e atuais, ilumina os códigos, os comportamentos, critica a ordem vigente e as relações de poder.
A autora, ciente da complexa relação entre poder e saber, retira o negro do lugar do outro determinado pelo mesmo, nele reconhecendo um estatuto próprio de alteridade. No caminho, trata do que é explícito e do que é velado, dos mecanismos de controle que fatalmente engendraram “efeitos de verdade”. Seu livro é resultado do esforço de captar vozes perdidas no tempo, e o mérito maior talvez seja ter conseguido fazer-nos ouvir o que se calou.
Ao leitor que percorrerá as páginas deste livro um mosaico se apresenta, além da possibilidade de compreender quanto do passado ainda permanece nos dias de hoje, mesmo que muitas coisas sejam encaradas como findas. As marcas da escravidão, de Heloisa Toller Gomes, é acima de tudo um convite à reflexão sobre valores e papéis forjados e reafirmados pela sociedade em relação ao negro.
Ricardo Freitas
Bacharel em letras - UERJ
Bacharel em letras - UERJ
Querida Rosania, querido Italo e colegas da EdUERJ
ResponderExcluirAdorei o blog da EdUERJ, com as ótimas fotos da Bienal, ressaltando o excelente trabalho de todos vocês, do qual fiquei feliz de participar.
Heloisa Toller Gomes